Se hoje sabemos a importância da água e todas as teorias
sobre o surgimento da vida nesta, o que não significa que tudo seja água, no
tempo de Tales, datado por volta de 625 a.C., essa era uma proposição louca. Se
as bases científicas não são capazes de sustentar tal afirmação nem no tempo de
Tales nem hoje, podemos chamá-la de mística. E assim nasceu a filosofia grega e
o mundo: na fantasia.
Mas Tales não era louco, ao contrário, entre os homens de
seu tempo era um sábio. E longe de propor o misticismo dos deuses, ele buscou a
natureza, o empirismo, a observação e a dedução para criar o mundo. Porém, se
não foi por mérito científico que ficou na história, foi pela ousadia de
unificar o mundo em um único elemento. “Tudo é um” é uma máxima filosófica que perdura
no tempo, “nada se cria nem se destrói, tudo se transforma” é a lei científica
de Lavosier (dita antes por tales na versão “nada se gera nem destrói”), que
perdura até hoje.
A fantasia voou. Antes da física quântica ela já mostrava
sua capacidade de romper tempo e espaço, de esmagar o mundo com as mãos e
transformá-lo em água. O misticismo está nas origens. De onde surge a ideia?
Mistério. E a inspiração? E a filosofia? Esta se utiliza da fantasia como meio para
responder seus anseios, atraída pela magia metafísica que a intuição mística
trás aos sábios.
“O que, então, leva o pensamento filosófico tão rapidamente
ao seu alvo? Acaso ele se distingue do pensamento calculador e medidor por seu
voo mais veloz através de grandes espaços? Não, pois seu pé é alçado por uma
potencia alheia, ilógica, a fantasia. Alçado por esta, ele salta adiante, de
possibilidade em possibilidade, que por um momento são tomadas por certezas;
aqui e ali, ele apanha certezas em voo.” Nietzsche.
Vamos então saborear este saber filosófico, já que “sábio”
se prende, etimologicamente , a “sapio”,
eu saboreio. E fazer de todos os mistérios da vida as nossas asas para
sobrevoar as origens e suas fantasias.