domingo, 25 de setembro de 2011

O bom e velho radinho


O mundo de hoje nos dá possibilidade de selecionar quase tudo: que estilo queremos ter, que tipo de roupa vamos usar, o curso na faculdade, a cerveja, qual canal assistir, qual programa escolher, que amigos aceitar no facebook, que fotos queremos marcar, que estilo de música é o meu. Assim, sai com os amigos de sempre, para os lugares de sempre, vestindo roupas parecidas, ouvindo as mesmas músicas e comentando sobre as pessoas em comum, os de sempre. Quando sai para a rua, pega o ônibus de rotina, abre o celular, entra na internet para ver só o que quer, põe o fone no mp3 e escuta a sua própria seleção de música, e não percebe nada além do que selecionou para seu mundo especial.
De repente, na manhã de um belo dia, antes de sair de casa, não encontra o fone específico do seu mp3 de marca estrangeira reconhecida, selecionado. "Droga, onde foi que eu deixei ontem..." Olha o relógio, não dá mais tempo de procurar, já tem que sair. Já estava tão acostumada a ouvir sua música, usar seu fone, que seria muito estranho, além de nunca gostar da música que toca no ônibus, nem nunca quis escutar mesmo. Já desistindo, olha para uma das gavetas do quarto e vê um fone.... não era o do mp3, mas o fone do celular que dava acesso para ouvir rádio. Pega e sai, não há muito tempo mesmo!
No caminho, coloca o fone no celular, ouve uma música que não conhece (estranho!), passa para outra, também não conhece. Procura, vai selecionar uma rádio. Passa, passa, passa... nenhuma música boa! Então, um som legal... caramba, a quanto tempo não ouvia aquela música!!! Acho que desde a infância. É muito boa! Depois, outra música que nunca mais ouviu, depois uma que já tinha enjoado há um tempo e agora parecia tão legal de novo. Finalmente, uma música que não conhecia, e era muito boa!
Foi então que o dia todo ficou diferente, as músicas a fizeram ver coisas que nunca tinha reparado no seu caminho rotineiro, se emocionar de forma tão diferente, lembrar da infância, de amigos antigos, da mãe (que sempre ouvia aquela música), e até de um namoradinho. Por coincidência do destino, vê um conhecido antigo no ônibus, emocionada com as lembranças, tira o fone e vai falar com ele. "Acabei de ouvir aquela música, daquele dia, lembra.... quanto tempo, como vai?" E ouviu coisas que não sabia, descobriu novas histórias, conversou sobre pessoas que não conhecia.
No meio da conversa, dividiu o fone com o amigo e percebeu que tocava mesma música no ônibus, caramba... Roberto Carlos! tirou o fone e resolveu acompanhar pela rádio do ônibus, com todas as interferências da rua, as buzinas, os motores, os sorrisos, os semblantes preocupados, os saltos altos, falas, zíperes, velcros, tecido, vento, unhas... em uma sinfonia nova, cheia de vida e música.
Chegou ao trabalho decidida a redescobrir seu redor. Novas conversas, novos pontos de vista, novas atividades, muitas coincidências também, surpresas, certezas, dúvidas. Entre novidades e lembranças, descobre um mundo novo, todo dia, pelo rádio.

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